Lean Construction, ou construção enxuta, é uma filosofia relativamente jovem no ramo da construção civil, e surgiu após o pesquisador finlandês Lauri Koskela publicar seu trabalho “Application of the new production philosofy in the construction industry”, em 1992.
O modelo tradicional de produção, considera a construção como um conjunto de atividades de conversão, que transformam insumos em produtos. Por exemplo, considera a conversão dos tijolos e argamassa em uma parede. Esse modelo de conversão não considera explicitamente algumas atividades, como a espera de materiais na obra pelos trabalhadores, o transporte desses materiais e o retrabalho. Ao contrário das atividades de conversão, essas atividades não agregam valor.
O modelo tradicional também não considera as necessidades do cliente. Por exemplo, uma construtora oferece apartamentos para os clientes em que eles são responsáveis pela colocação do revestimento cerâmico, mas na execução do contra piso a construtora o deixa muito liso. Num primeiro momento, isso é agradável esteticamente, mas prejudica quem for assentar o revestimento, pois este precisa de uma superfície com ranhuras para que a argamassa de assentamento tenha aderência.
O Lean Construction considera os processos como fluxos de materiais, desde a matéria-prima até o produto final, a edificação. Assim, esse fluxo é constituído por atividades de transporte, espera, conversão e inspeção. O transporte, espera e inspeção não agregam valor ao produto final, por isso são chamadas atividades de fluxo. Mas isso também não quer dizer que toda atividade de conversão agrega valor ao produto. Por exemplo, ao executar uma parede, esta não ficou da maneira que o cliente desejava e então tem que ser modificada, essa atividade de conversão foi executada sem agregar valor.
No modelo de Construção Enxuta o ponto de partida para o melhoramento da construção civil é mudar a maneira de pensar, ao invés de ficar procurando soluções isoladas para os vários problemas que caem em nossas mãos.
Koskela, em seu trabalho citado no início deste artigo, apresentou um conjunto de princípios para a gestão dos processos, listados a seguir:
Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor: Por exemplo, reduzir o tempo de espera de materiais e otimizar o transporte deles dentro da obra.
Aumentar o valor do produto através da consideração das necessidades dos clientes: Levar em conta o que o cliente espera da construção e quais as finalidades a edificação terá para ele. Desse modo o valor do produto final é aumentado, mesmo sem grandes modificações na sua produção.
Reduzir a variabilidade: Uma característica forte na construção civil é a variabilidade nos processos de uma obra para outra. Mas é importante que certos processos ou materiais não tenham variabilidade. Por exemplo, os revestimentos cerâmicos não podem possuir variabilidade dimensional o que acarretaria um assentamento ruim.
Reduzir o tempo de ciclo: O tempo de ciclo pode ser definido como a soma de todos os tempos (transporte, espera, processamento e inspeção). A redução do tempo de ciclo traz algumas vantagens, como a entrega mais rápida ao cliente e o aumento da aprendizagem. Por exemplo, num condomínio com vários blocos, se todos eles forem iniciados ao mesmo tempo e em um determinado tempo encontra-se um erro de projeto ou execução, todos os blocos terão que ter o retrabalho, agora se um bloco for construído primeiro, os erros cometidos nele poderão ser evitados nos outros.
Simplificar através da redução do número de passos ou partes: Quanto maior o número de componentes ou de passos num processo, maior tende a ser o número de atividades que não agregam valor. A redução do número de passos pode ser feita com a utilização de elementos pré-moldados, ou com a disponibilização de materiais, equipamentos e informações em locais adequados, o que tende a eliminar ou reduzir a ocorrência de movimentações e deslocamentos desnecessários.
Aumentar a flexibilidade de saída: Esse é um processo também gerador de valor, mas como aumentar a flexibilidade sem aumentar o tempo de ciclo? Um exemplo é a customização do produto no tempo mais tarde possível, como a escolha das peças sanitárias e revestimento cerâmico pelo cliente, sem que haja necessidade de retrabalho depois da obra entregue.
Aumentar a transparência do processo: Com o aumento da transparência dos processos os erros são mais fáceis de serem identificados. Assim, a mão de obra pode auxiliar no desenvolvimento de melhorias. Isso pode ser feito com a remoção de obstáculos visuais, utilização de cartazes e sinalização, emprego de indicadores de desempenho e aplicação de programas de organização e limpeza como o 5S.
Além do Lean Construction reduzir as perdas de materiais e o tempo de trabalho, ele busca agregar valor ao produto final. Por isso, é uma filosofia muito atrativa de se adotar na construção civil nos dias de hoje.
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Artigo: Lean Construction: princípios básicos e exemplos – Carlos Torres Formoso
Ph.D., professor e pesquisador do Norie/UFRGS
http://www.leansixsigma.com.br/acervo/2011520.PDF